Josué no MDIC e Mercadante no BNDES: derrota de Skaf na Fiesp; Brasil inicia reindustrialização

Por Luís Costa Pinto

Em articulações empreendidas no fim de semana que passou em Brasília, aguardando a cerimônia de diplomação como futuro presidente, marcada para o início da tarde desta segunda-feira no Tribunal Superior Eleitoral, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva mudou o curso tradicional das pressões da política: foi a força das águas da Esplanada dos Ministério que empurrou de volta para a Avenida Paulista uma crise nascida na pirâmide da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, prédio-sede da entidade.

Lula vai recriar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, convidou o industrial têxtil Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, para assumir o comando da pasta e ancorará nele, de volta, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente do BNDES será o economista, ex-senador e ex-deputado Aloízio Mercadante, coordenador da transição de Governo e presidente da Fundação Perseu Abramo, instância do Partido dos Trabalhadores encarregada de formular o programa da campanha petista. O convite para o ministério abriu para Josué uma saída estratégica e por cima do comando da Fiesp em meio a uma guerrilha de traições aberta contra ele pelo ex-presidente da entidade, Paulo Skaf.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, foi interlocutor estratégico no processo de convencimento de Josué Gomes. A Fiesp deverá passar a ser comandada pelo presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Rafael Cervone Netto, que é o 1º vice-presidente da entidade. Josué é, em contrapartida, o 1º vice do Ciesp. Foi o atual presidente da Fiesp e futuro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio quem articulou a ascensão de Cervone Netto ao topo da pirâmide da Avenida Paulista.

SKAF ESPERA, AGORA, GESTO DE CERVONE EM SEU FAVOR

O antecessor de Josué, Paulo Skaf, almejava retornar ao comando da poderosa federação paulista, cargo de onde colaborou intensamente pelo golpe do impeachment sem crime de responsabilidade da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 (utilizando para tanto, inclusive, o caixa da Fiesp ao financiar campanhas publicitárias pró-golpe e deslocamento logístico de materiais usados no convencimento de parlamentares a favor da deposição de Rousseff).

Notório golpista, Skaf montou pelas costas de Josué a convocação de uma Assembleia Extraordinária do Conselho da entidade, marcada para 21 de dezembro. A pretensão dele era voltar nos braços de presidentes de sindicatos empresariais aos quais adulou pelos 16 anos em que se manteve à frente da Fiesp e do Ciesp ao mesmo tempo, acumulando os cargos e os caixas. Por todo esse tempo Skaf tentou voos políticos nas asas de partidos como PSB, PMDB, MDB e Republicanos. Foi candidato ao governo do estado, à prefeitura da capital e ao Senado. Perdeu tudo o que disputou no voto popular. Ele açulou a rebelião na Fiesp, mas, não desejava a ascensão de Cervone Netto – de quem espera um gesto em seu favor (que dificilmente virá).

Cervone está a uma canetada de reunir nas mãos o poder do Ciesp e da Fiesp, conservando a amizade com um poderoso ministro do Desenvolvimento Industrial e Comércio Exterior e tendo acesso direto ao presidente do BNDES (Aloízio Mercadante, já indicado e aguardando os fatos acontecerem) e mantendo inédita sintonia com o presidente da CNI. Robson Andrade foi carta relevante no estratagema que teve início nas coxias da transição. Consumada a sucessão na Fiesp, Paulo Skaf, será tratado pelo futuro governo como um reles golpista remanescente de 2016. Em consequência, não terá serventia alguma para o pragmatismo empresarial dos paulistas.

Josué Gomes da Silva à frente de um MDIC em vias de ser recriado, com Aloízio Mercadante no BNDES em diálogo direto e franco com o Ministério da Fazenda de Fernando Haddad, e o Ministério do Planejamento sendo preenchido por um nome do espectro social-democrata da aliança que elegeu Lula, darão um rumo determinado para a missão dada pelo presidente eleito e por seu vice, Geraldo Alckmin: conduzir o processo de reindustrialização do País. Para tanto, o futuro Governo convocará a CNI de Andrade, a Fiesp renovada e todas as demais federações estaduais de indústrias para que se alinhem no projeto. As águas deste fim de ano chuvoso em Brasília lavaram a Esplanada dos Ministérios e terminaram por movimentar bons moinhos na Avenida Paulista.

LUÍS COSTA PINTO

LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 52. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem dois volumes lançados e o volume 3 está em fase de edição.

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