Por quase meio século a logomarca “Casas Bahia” foi uma das mais presentes na mídia brasileira. Era um dos principais anunciantes de jornais, revistas e TV aberta. Fundada em 1952 por Samuel Klein, um judeu que escapara dos campos de concentração nazistas, a Casas Bahia converteu-se ao longo de seis décadas em um império do varejo brasileiro. Empresário incensado pela mídia, personagem de uma das primeiras biografias de “sucesso empresarial” do mercado editorial nacional – “Samuel Klein, o homem que escapou do holocausto e revolucionou o varejo com a Casas Bahia”, que vendeu mais de 150.000 exemplares, um portento para o mercado editorial de um País pouco afeito a livros – Klein morreu em 2014 aos 94 anos e permanecia lembrado por todos a partir da versão confortável de sua vida: a do sucesso e do empreendedorismo. Até 2021, quando uma primeira coluna da jornalista Mônica Bergamo revelou que Saul Klein, filho dele, era acusado de abuso sexual por mais de uma dezena de mulheres. Poucos foram atrás do fio exposto por Mônica. Depois, a Agência Pública expôs denúncias de que Samuel Klein era pedófilo e trouxe À tona os primeiros depoimentos de mulheres que haviam sido estupradas e exploradas sexualmente pelo empresário, por anos. A maior parte da mídia tradicional seguiu em silêncio sobre o viés devastadoramente criminoso do “rei do varejo”. Por fim, esta semana, a jornalista Eliane Trindade, da Folha de S Paulo, expôs a face mais cruel de Samuel Klein: a do explorador, estuprador, a do inacreditável homem rico que compra a virgindade de garotas de seis anos, oito anos, 10, 14, 16 anos. Outrora herói dos meios empresariais, Klein passou a ser “cancelado” entre executivos e empresários que antes o tinham por exemplo. Contudo, os relatos do perfil criminoso, grotesco, bizarro e perverso de Klein – que parece ser mimetizado por seu filho Saul – não ocupou o lugar de destaque que merece nos debates da imprensa brasileira. A história do “lado B” de Samuel Klein parece ser a síntese de várias outras histórias de perfis de personalidades públicas ou de empreendedores e celebridades brasileiros que seguem incensados a partir de uma imagem distorcida que projetam. Eliane Trindade estará conosco no Sua Excelência, O Fato para debater o tema conosco e com o cronista e roteirista Xico Sá. Há um “estado de mal-estar” no Brasil?