Por Maria Cristina Fernandes – do Valor Econômico
Grupos de WhatsApp de grandes empresários e investidores amanheceram indignados nesta quinta-feira com a percepção vigente sobre o jantar promovido na noite de ontem por Washington Cinel, dono da empresa de segurança Gocil, ao presidente Jair Bolsonaro.
A avaliação é de que o Palácio do Planalto quis passar a percepção – e foi bem sucedido – de que Bolsonaro tem apoio na elite econômica do país quando, na verdade, juntou um punhado de empresários e banqueiros que responde a um dos critérios ou a ambos: são do núcleo duro do bolsonarismo e estão sempre a assediar o presidente de plantão.
A posição do grande empresariado e da grande finança estaria bem mais refletida, na visão deste interlocutor, em iniciativas como a Coalizão Brasil, a Concertação pela Amazônia ou mesmo o apoio ao manifesto dos economistas por saídas para a pandemia, que reúne CEOs de grupos como Itaú, Klabin, Gerdau, Amaggi, Natura, Ambev, Gávea, Marfrig e Amaggi.
A tentativa do presidente da República de ressuscitar o antipetismo para fisgar de volta o apoio empresarial perdido, diz este interlocutor, tampouco surtirá efeito. Entre aqueles que, de fato, ditam os rumos da economia nacional, este discurso não adiciona um único voto no presidente da República em 2022. Uma parte deles reconhece que se o PT estivesse no poder o país não teria afundado tanto e a grande maioria recebe esse discurso do presidente da República como um estímulo redobrado para a busca por uma terceira via.
A presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, tampouco os sensibilizou. A tentativa de Bolsonaro de mostrar que seu ministro da Economia está prestigiado não surte mais efeito. Guedes atualmente é visto como ministro de um país imaginário onde todos gostariam de viver mas que, infelizmente, ninguém acredita que exista.
Apesar do incômodo gerado pelo jantar, cuja divulgação teve o empenho pessoal de ministros palacianos, de que há uma divisão na elite econômica, não haverá mobilizações adicionais para mostrar o azedume com este governo. E o principal motivo é a pandemia. Os CEOs críticos ao bolsonarismo estão recolhidos em suas casas porque temem aquilo que o presidente despreza, a agressividade da covid-19. Cresce, porém, neste grupo, a percepção de que Bolsonaro, no limite, chegará a 2022.
Há empresários deste meio que se aproximaram do vice-presidente Hamilton Mourão por conta de sua atuação no Conselho Nacional da Amazônia mas não há qualquer mobilização real para apear o presidente da República do poder por conta da percepção de que o Congresso quer mantê-lo no cargo.
O artigo do vice-presidente publicado na última terça-feira no “Estadão” foi lido como uma manifestação clara de que Mourão não endossou o comportamento de Bolsonaro na recente crise militar e que subscreve a atuação estritamente constitucional das Forças Armadas em defesa das instituições nacionais.