Editorial
Regra geral, democratas autênticos não devem fustigar a interrupção de governos legítimos – posto que a legitimidade emana das urnas e há, ainda, um presidente eleito por voto direto no Palácio do Planalto. Por quanto tempo mais?
Michel Temer era ilegítimo porque desde a origem se constituiu em usurpador da caneta presidencial. Para tanto, aliou-se às milícias mercenárias de Eduardo Cunha e de Aécio Neves e puseram em marcha o projeto de instalar no poder uma cleptocracia. O Fora, Temer, portanto, impôs-se desde sempre. O Fora, Bolsonaro tem de ecoar.
Fruto das ações dos cleptocratas de Temer em associação com o lava-jatismo criminoso do ex-juiz Sérgio Moro, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e dos procuradores da “Força Tarefa” de Curitiba liderados por Deltan Dallagnol, num processo que tisnou e, possivelmente, corrompeu a legitimidade do processo eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro se elegeu presidente.
Ainda antes de tomar posse, ao mandar às favas os pruridos da vergonha e pôr o ex-juiz Sérgio Moro no Ministério da Justiça sem medir as consequências da vendeta que cometia contra a República, o presidente eleito numa esteira de ódios e preconceitos meticulosamente estudados e implantados contra a Política anunciou seus propósitos.
E quais eram tais propósitos senão atacar diuturnamente as cercas que protegem as instituições democráticas, o Estado de Direito, as carreiras de Estado? Quais eram tais propósitos senão solapar todos os marcos civilizatórios que o Brasil ergue a duras penas desde a vitória do Iluminismo sobre as trevas da ditadura militar de 1964? Entre esses marcos, a conservação dos militares no estrito cumprimento do papel que a Constituição de 1988 lhes destinou. Foi a Constituição que os tirou da paisagem da administração pública, posto terem se revelado incompetentes para tal.
Inconsequentes, despreparados, arrogantes e desprovidos de uma leitura estratégica sofisticada dos cenários nacional e internacional, os comandantes contemporâneos das três forças militares criam engravidar Bolsonaro com suas ideias toscas, bizarras. Foram eles, contudo, os engravidados pelo clã presidencial onde assaltos diuturnos e comezinhos perturbam a todo momento a normalidade institucional do País. Tornaram-se corriqueiras as solertes e desmoralizantes rachadinhas de salários, uma das formas mais vis e escroques de corrupção. Naturalizou-se a divulgação de elos criminosos do clã presidencial com milícias comandadas por policiais militares e com advogados que estariam bem sentados no banco dos réus. Absurdos assim viraram costume replicante na rotina nacional.
Ante a maior ameaça à saúde e à integridade da população brasileira registrada em mais de um século – a pandemia por coronavírus Covid-19 – Bolsonaro deu vezo à sua faceta mais vil, perversa, ignorante, estúpida e desumana: apostou na morte. Para ele, a morte em massa de brasileiros era uma chance para retardar a emersão do personagem indigno, corrupto ladino, do desqualificado amoral que enganou parte dos 54 milhões de eleitores que o sufragaram há menos de três anos. Outra parcela dos eleitores que nele votaram, não o fizeram por engano, mas, sim, por atração mórbida pelas facetas mais obscuras do bolsonarismo. Também porque desejavam, mesmo, ser cúmplices do genocídio brasileiro e da tentativa de assassinar a nossa Democracia.
Se o impeachment é demorado, tem processo lento, apele-se, pois ao convencimento da renúncia.
Se a renúncia é gesto de grandeza singular do qual uma personagem tão baixa, inconsequente e abjeta é incapaz, recorra-se à interdição.
Se, para a interdição, carece-se de laudo médico, providencie-se um.
Se, ainda assim, o vilão seguir abraçado ao poder presidencial para o qual já não tem mais legitimidade para exercer, ocupemos as ruas para apeá-lo de lá.
Deposição, já!
É o que se impõe aos democratas de um Brasil que não pode perder tempo.
3 respostas
Sou a Marina Da Silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.
Não creio mais que um dia os militares imaginaram que controlariam esse miliciano que ocupa a presidência da República. Associação de interesses coorporativos entre eles eles, o mercado, parte do judiciário e ministério público. O Brasil como nação, sofreu e sofre um processo de desintegração explícito graças aos mencionados acima.
Texto sensacional, uma sintese assombrosa e de precisao cirurgica sobre o mal que nos assola. Parabens.