O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) se tornou alvo de críticas após divulgar nota, nesta segunda-feira (1º), criticando as restrições a atividades não essenciais para frear o avanço da pandemia de Covid-19 na capital. A Sociedade Brasileira de Infectologia no DF e a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) reclamaram do posicionamento.
O decreto com restrições começou a valer no DF no domingo (28) e determina o fechamento de estabelecimentos como escolas, bares, restaurantes, academias e shoppings.
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Na nota, o CRM-DF usa uma frase retirada de contexto para dizer que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o isolamento rígido contra a Covid-19. Na verdade, a OMS defende a medida como uma das formas de combate a momentos de crise causados pelo vírus.
O conselho afirma, sem apresentar dados estatísticos, que as restrições causam aumento na incidência de transtornos mentais e no consumo excessivo de álcool e drogas. Afirma ainda que as medidas levam a prejuízos irremediáveis na economia.
O CRM-DF defende, como ação preventiva eficaz contra a Covid-19, ao invés do isolamento rígido, a realização de campanhas de educação sobre as medidas individuais de higiene, uso de máscaras, distanciamento social, vacinação populacional e ostensiva fiscalização por parte do governo.
Críticas
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Após a divulgação da nota, a Sociedade de Infectologia do DF publicou carta aberta (veja íntegra ao fim da reportagem) dizendo que a área técnica do CRM-DF não foi consultada sobre o posicionamento.
A entidade afirma que “o DF, assim como o restante do Brasil, encontra-se em uma grave crise de saúde pública e tal situação requer máxima expertise, para que as melhores medidas de contenção sejam implementadas, visando assim o benefício da sociedade como um todo”.
Soluções simples ou radicalismos não atendem à necessidade atual”, diz a Sociedade de Infectologia.
Ainda segundo a entidade, “o lockdown já se mostrou, em várias partes do mundo, uma medida útil para controle da transmissão da Covid-19, devendo ser adotado em casos extremos”.
“São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF.”
Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) — Foto: Raquel Aviani/Secom UnB
A Faculdade de Medicina da UnB também criticou e demonstrou “profunda preocupação” com a nota do CRM-DF. “A situação é crítica e, como tal, exige intervenção imediata e categórica para diminuir o risco de perda de vidas pela falta de atenção adequada aos casos mais graves de Covid-19 e de evitar mortes por outros agravos prevenindo o colapso do sistema de saúde”, diz o texto.
Segundo a faculdade, “as medidas de restrição preconizadas no decreto do GDF são baseadas em evidências sólidas obtidas em estudos científicos bem desenhados e executados em diversos locais do mundo”.
“Estas medidas reduzem a transmissão do vírus e podem apresentar impacto positivo sobre o comportamento da epidemia, contando com a adesão da população.”
“Assim, surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas afetadas pela doença, em prol de interesses de natureza econômica e alheios ao seu dever de zelar pelo bom exercício da profissão médica. A atitude do CRM-DF tristemente contribui para reduzir a adesão às medidas e certamente terão um preço em vidas ceifadas pela doença”, diz a nota.
Restrições no DF
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A aplicação de novas restrições a serviços não essenciais no DF ocorre em meio ao aumento de casos de Covid-19 e à pressão por leitos de UTI. Nesta segunda, a capital registrou 27 mortes pela doença, número mais alto desde outubro de 2020. Além disso, foram 2.142 infectados, maior total desde agosto do ano passado.
Nesta segunda, o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse que pretende retomar as atividades de todos os setores até 15 de março. Disse ainda que há possibilidade de liberação de alguns setores antes. No entanto, de acordo com o Executivo local, isso depende da redução da taxa de transmissão do vírus e da abertura de mais leitos de UTI.
Confira a íntegra do posicionamento da Sociedade de Infectologia do DF:
“A Sociedade de Infectologia do Distrito Federal informa que, apesar do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal ter nomeado uma Câmara Técnica de Infectologia, a mesma nunca foi consultada antes da emissão dos posicionamentos recentes, que são a favor do tratamento específico precoce para Covid-19 e contra o lockdown.
O DF, assim como o restante do Brasil, encontra-se em uma grave crise de saúde pública e tal situação requer máxima expertise, para que as melhores medidas de contenção sejam implementadas, visando assim o benefício da sociedade como um todo. Soluções simples ou radicalismos não atendem à necessidade atual.
O lockdown já se mostrou, em várias partes do mundo, uma medida útil para controle da transmissão da Covid-19, devendo ser adotado em casos extremos. No Distrito Federal, propõese no momento a restrição de atividades específicas e em horários delimitados. São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF.
A SIDF possui membros atuantes em todo o DF, nas redes pública e privada, e se dispõe a contribuir no que for preciso. Vale ressaltar que a implementação de medidas, que restringem a circulação de pessoas, deve ser baseada em indicadores que avaliem a representação de risco de cada uma das atividades envolvidas.”
Confira a íntegra do posicionamento da Faculdade de Medicina da UnB:
“A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília vem a público manifestar sua profunda preocupação com a divulgação da nota pública do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) contra as medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para diminuir o trágico impacto da pandemia de Covid-19 na população.
No presente momento, a transmissão de SARS-CoV-2 apresenta curva ascendente, tanto no DF quanto nos municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE), com a ocupação de praticamente a totalidade dos leitos de UTI disponíveis. A situação é crítica e, como tal, exige intervenção imediata e categórica para diminuir o risco de perda de vidas pela falta de atenção adequada aos casos mais graves de Covid-19 e de evitar mortes por outros agravos prevenindo o colapso do sistema de saúde.
O processo de vacinação da população mais vulnerável à doença grave encontra-se em andamento, no entanto, a escassez atual de vacinas demandará um período prolongado de vários meses, antes de que essa meta seja adequadamente atingida.
A adesão às medidas de distanciamento físico, higienização frequente das mãos, uso de máscaras e de evitar aglomerações é fundamental para o enfrentamento da pandemia, porém, isso não é suficiente para reverter o cenário crítico atual na rede de atenção à saúde do DF.
As medidas de restrição preconizadas no decreto do GDF são baseadas em evidências sólidas obtidas em estudos científicos bem desenhados e executados em diversos locais do mundo. Estas medidas reduzem a transmissão do vírus e que podem apresentar impacto positivo sobre o comportamento da epidemia, contando com a adesão da população.
Assim, surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas afetadas pela doença, em prol de interesses de natureza econômica e alheios ao seu dever de zelar pelo bom exercício da profissão médica. A atitude do CRM-DF tristemente contribui para reduzir a adesão às medidas e certamente terão um preço em vidas ceifadas pela doença.
Portanto, a Câmara de Representantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília reitera o apoio às medidas de restrição adotadas pelo GDF e manifesta o seu compromisso com a implementação de políticas em saúde pública baseadas em evidências científicas para que o Sistema Único de Saúde possa garantir que todas e todos tenhamos oportunidade e acesso ao cuidado necessário, evitando perda de vidas por Covid-19.”
Leia, clicando aqui, a íntegra da reportagem publicada originalmente no G1: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2021/03/01/covid-19-conselho-regional-de-medicina-e-alvo-de-criticas-apos-nota-contra-medidas-de-restricao-no-df.ghtml