Segundo o jornalista e cientista político João Gabriel de Lima, o ecossistema político brasileiro é rico demais para cair nas armadilhas de Bolsonaro, o tempo todo, e deixar que ele paute o debate político. “A história de voto impresso, urna eletrônica, voto auditável, é uma dessas armadilhas”, adverte João Gabriel, que cumpre período sabático em Portugal, onde faz o doutoramento em Ciências Políticas. Ele foi o convidado especial desta quarta-feira no programa Sua Excelência, O Fato (link para a íntegra no final desse texto), e debateu com os jornalistas Luís Costa Pinto e Eumano Silva.
Autor do ensaio “No pior clube”, publicado na revista Piauí do mês de julho, ele revela que o Brasil já é a Nação que inspira a maior preocupação dentre os acadêmicos e estudiosos que monitoram a consistência de regimes democráticos em todo o mundo. “Estamos no caminho da autocratização. Ou seja, de manutenção de um autocrata no poder, e eles chegam ao poder por meio do voto”, diz João Gabriel.
Lembrando as trajetórias políticas do polonês Andrej Duda, do húngaro Viktor Orbán e do indiano Narendra Modi, todos eles autocratas que deterioram as democracias em seus países e hoje lideram regimes de força que caminham para ditaduras, João Gabriel de Lima adverte: “todos eles passaram para um segundo mandato. No primeiro, não atacaram frontalmente a democracia. Mas, no segundo, sim. E sem contenção da sociedade”.
Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, em nota publicada nesta quarta-feira, amanhã Jair Bolsonaro promete revelar “provas” de vulnerabilidades da urna eletrônica. Ou seja, em seu desespero para tentar seguir pautando a agenda política, seguirá tentando circunscrever o debate aos temas que ele escolher. A oposição a Bolsonaro e ao governo precisam estar atentas à estratégia a não cair naquilo que João Gabriel de Lima classifica como estratégia eleitoral de circunscrição de agenda.