Sidônio assume Secom sem margem para errar. Burocracia do cargo pode engessá-lo

Saída de Pimenta veio tarde e era imperativo. Novo ministro terá de conciliar gênio criativo e estratégico com administração. Sócios da vida privada no Palácio é erro crasso
Por Luís Costa Pinto

Tirar o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) da Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi uma decisão certa e tardia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na virada de chave entre a primeira e a derradeira metades desse seu 3º mandato no Palácio do Planalto.

Trazer o publicitário Sidônio Palmeira da Bahia para Brasília e deixá-lo mais próximo das linhas de produção da Comunicação de Governo e das agências de publicidade que atendem à conta institucional palaciana também foi medida necessária, crucial para eventual sucesso eleitoral em 2026 e que demorou a ser empreendida.

Colocar o marqueteiro presidencial de 2022 na cadeira de ministro-chefe da Secom, porém, talvez não venha a se revelar o melhor caminho para atingir o fim pretendido. Ele é homem de criação e de estratégia. A Secretaria de Comunicação é órgão gestor e agudamente burocratizado – como toda a máquina pública, como sói acontecer a braços do Estado que mexem com a administração pública. A burocracia tira foco, energia, paciência e tolhe a ousadia de quem não tem tempo de compreendê-la e domá-la sem infringir normais, regras e leis. Há sempre uma CGU e um TCU à espreita e, em palácios, é sempre bom temer as instituições reguladoras (coisa que Pimenta tentou driblar por todo o tempo, afoitamente crendo-se mais inteligente que os demais).

Sidônio não se aproximou mais do Palácio do Planalto a partir, já, da posse de Lula, há dois anos, porque dois fornecedores da Secretaria de Comunicação afastaram-no de todos os caminhos que levavam ao exercício da influência sobre as estratégias publicitárias do Governo. Essas duas empresas, Agência Nacional e FSB Comunicação, vencedoras de licitações promovidas ainda sob o mandato trágico de Jair Bolsonaro e coordenadas pelo então ministro das Comunicações Fábio Faria, converteram-se rapidamente em líderes dos contratos publicitários e de assessoria palacianos. Paulo Pimenta entregou-se a elas risonha e francamente, permitindo que um consórcio criativo entre ambas influenciasse todos os demais fornecedores da área de comunicação pública. Foi a gênese do desastre.

A partir do último trimestre do ano passado, quando ficou claro que a manutenção do deputado gaúcho à frente da Secom era insustentável, idealizaram-se campanhas de última hora para alavancar a propaganda de Governo e queimar o que havia de verba de veiculação. Mas, a gestão “Lula 3” carecia – como segue carecendo – de uma marca, de uma idéia-força, de uma linha que agregue para a maioria dos brasileiros um prisma de visão do País a partir das boas entregas que o 3º mandato do presidente ex-sindicalista vem tendo.

Empresário do ramo publicitário e também do setor imobiliário na Bahia, engenheiro de formação, profissional hábil na leitura de relatórios de pesquisa (quando eles são bem feitos, porque bem encomendados, algo difícil de encontrar no espólio da Secom que herda de Paulo Pimenta), Sidônio Palmeira precisa sentar na cadeira de ministro já voando para pôr a mão na massa de ações estratégicas de campanha. Não poderá perder tempo com a burocracia. Ele sabe disso. E porque sabe disso, arrisco aqui uma opinião dura para que não me chamem de engenheiro de obra feita lá na frente: errará feio se levar seus parceiros de vida privada (bem-sucedida) no marketing político para dentro da estrutura operacional da Secom.

Como tem pouco tempo para mostrar resultados cabais de sua excelência comunicativa, será erro fatal se Sidônio deixar-se enrolar nos novelos e nas quizílias da gestão pública. O Leviatã não espera pelo aprendizado dos dribles às armadilhas espalhadas por Brasília, pela Esplanada, pelos porões tecnocráticos. Além disso, o novo ministro da Secom precisará revelar traquejo político para receber a todos os parlamentares e colegas de equipe, ouvir pedidos, dizer “não” sorrindo e tendo terceirizado a missão árdua, construindo pontes com a mídia, fazendo amigos e influenciando cabeças entre jornalistas.

Tirar Pimenta era mandatório. Mudar radicalmente a Comunicação de Governo, idem. Só não sei se engessar Sidônio no Palácio era a melhor saída; tenho certeza que deixá-lo reproduzir na máquina pública a estrutura de comando e criação de sua agência de publicidade e marketing político se revelará um erro. Há que se temer a repercussão desse erro em 2026.

Picture of LUÍS COSTA PINTO

LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 55. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem três volumes lançados. Haverá um 4º e último volume). Também são de sua autoria "O Vendedor de Futuros", um perfil biográfico do empresário Nilton Molina e "O Procurador", livro-reportagem que mergulha nos meandros do Ministério Público e nas ações da PGR durante o período de Jair Bolsonaro (2019-2022) na Presidência da República.

compartilhe:

Twitter
Telegram
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress