Charco venezuelano não traga nem Lula, nem Governo. PT erra e mergulha na lama de Maduro. Esquerda brasileira fica zonza

Golpe bananeiro do autocrata Nicolás Maduro desautoriza o crédito dado a ele para tirar a Venezuela do atoleiro de uma guerra civil iminente. Não houve eleição: houve fraude

Por Luís Costa Pinto

A esquerda brasileira está dividida ante os evidentes retrocessos democráticos que ocorrem na Venezuela. Isso, em si, já é uma tragédia. Fomos incapazes e incompetentes para driblar as armadilhas deixadas pela extrema-direita na trajetória de reconstrução de nossas instituições. A divisão da esquerda é evidente quando se mapeia a média das opiniões dadas por lideranças políticas e por personalidades públicas e midiáticas que se identificam com o espectro ideológico mais humanista e historicamente interessado em mitigar as injustiças sociais.

O Partido dos Trabalhadores, maior e mais estruturada agremiação política da cena nacional, indutora histórica dos caminhos a serem trilhados pelos que perfilam do lado bom e luminoso de um sociedade civil forte e pulsante, bailou na curva e se deixou capturar pelos ardis de Nicolás Maduro. Convertido em presa fácil na rede de desinformações, cretinices e chantagens do fanfarrão que usurpou do povo o poder em seu país, o PT afunda nas areias movediças do charco amazônico montado na Venezuela. A nota tortuosa, desnecessária e precipitada do comando petista, chancelando os ritos autocratas do revolucionário de araque ora de plantão equestre em Caracas, tornam a sigla sócia da iminente guerra civil prestes a eclodir aqui no subcontinente. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu Governo, porém, agem de forma irrepreensível e madura (sem trocadilhos!) até aqui. Para além do Executivo brasileiro, pode-se dizer que as nossas instituições de Estado têm sido acertadamente cautelosas com a tragédia venezuela cujas centelhas vêm sendo acesas pelo bizarro ex-maquinista do metrô de Caracas convertido em protagonista de mais uma autocracia escondida por trás do simulacro de República de Bananas plantada entre a Amazônia Legal e as portas do Mar do Caribe. 

O Tribunal Superior Eleitoral agiu bem ao retirar de campo, na undécima hora, seu time de observadores que iria acompanhar a eleição venezuelana no último domingo. Como a eleição foi uma peça farsesca, o TSE escapou de servir como lona de biombo a esconder o circo armado por Maduro. E também acertou o Governo do Brasil ao manter a viagem do assessor especial do Palácio do Planalto, Celso Amorim, à Venezuela. Um dos mais experientes diplomatas em atividade no mundo ocidental, tarimbado negociador em quadras difíceis da História, Amorim era os olhos e os ouvidos – além da voz carregada de sabedoria – do Chefe de Estado brasileiro. E tal personalidade é ninguém menos que um dos escassos estadistas globais em atividade: Lula.

O Brasil é a grande potência regional capaz de mediar saídas para a potencial desagregação nacional prestes a ocorrer no território venezuelano e temos extensa fronteira terrestre com eles. Além disso, a Venezuela é elemento desagregador e pólo de desequilíbrio na margem equatorial do Atlântico, onde há interesses econômicos e estratégicos brasileiros.

Isolada, desagregada e incendiada por um conflito interno que a fratura, a Venezuela fatalmente se converterá em enclave de potências e subpotências nucleares e econopolíticas como China, Rússia e Irã, por exemplo, no subcontinente sul-americano. Isso para não falar nos petro-estados (e petro-ditaduras) que mantêm proximidade e xavecos com o chavismo depauperado por Maduro. Uma Nação que se propõe a negociar saídas que tangenciam a guerra e seu inescapável cortejo de tragédias associadas não pode perder o timing e nem o foco de cada palavra ou conceito apostos em seus pronunciamentos e manifestações oficiais. 

Agindo com a cautela preciosa com a qual se porta diante do charco venezuelano o Governo brasileiro liderado pelo presidente Lula evitou, até aqui, repetir todo o rol de erros cometidos por diversos países europeus, pelos Estados Unidos e pela OTAN no atoleiro em que a Rússia se meteu ao agredir e invadir a Ucrânia. Se houver chance de a Venezuela evitar o mergulho de cabeça num caótico e autodestrutivo conflito interno, as saídas serão esboçadas a partir da prancheta geoestratégica do Palácio do Planalto e conduzidas por Lula.

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LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 55. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem três volumes lançados. Haverá um 4º e último volume). Também são de sua autoria "O Vendedor de Futuros", um perfil biográfico do empresário Nilton Molina e "O Procurador", livro-reportagem que mergulha nos meandros do Ministério Público e nas ações da PGR durante o período de Jair Bolsonaro (2019-2022) na Presidência da República.

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