Por Luís Costa Pinto
Seja nos gramados secos das entrequadras residenciais ou comerciais do Plano Piloto de Brasília, seja nas avenidas hostis de uma São Paulo que tem cada vez menos motivos de se orgulhar do título de locomotiva do País, quem sai às ruas das grandes cidades brasileiras disposto a olhar além das plantações de ódio e de mentiras germinadas e aradas a partir da farta distribuição de sementes do mal promovida pelo fanatismo político de extrema-direita constata a ruína de um Brasil miserável, sem teto, faminto, desempregado e sem esperança.
O mesmo se dá nas margens lamacentas do Rio Capibaribe, que corta o centro do Recife dividindo-o em ilhas, ou nas decadentes calçadas das marquises das avenidas Visconde de Pirajá e Nossa Senhora de Copacabana, num Rio de Janeiro medievalizado pelo medo.
Em Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Belém, Manaus, Goiânia ou Curitiba não é diferente.
Pouco menos de quatro anos de ausência de governo, de patranhas personalistas, da permanência trágica de um personagem solerte, vil, perverso e acanalhado como Jair Bolsonaro na presidência da República, foram mais do que suficientes para devastar uma Nação que se reconstruía lenta, gradual e seguramente depois de 21 anos de ditadura militar.
A partir do próximo 16 de agosto, terça-feira, teremos intensos e duros 45 dias de campanha eleitoral formal até as urnas do 1º turno deste 2022.
Por mais que estejamos extenuados e desgastados pela luta empreendida até aqui, desde o marco zero dessa tragédia, assinalado em de 2015, quando uma sucessão de erros políticos guindou um facínora da estirpe de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados, é preciso ter em mente: há tempo para convencer 5% dos eleitores brasileiros aptos a votar este ano e que têm repulsa ao bolsonarismo e ao seu chefe miliciano, mas, resistem ainda a sufragar Lula em 2 de outubro.
COMO VIRAR 5% DOS VOTOS?
O Brasil, o nosso futuro, todos nós, a decência e a moralidade, a institucionalidade e a racionalidade, precisamos de um movimento generoso e histórico desses 5% de brasileiros. Esse percentual corresponde a 7,8 milhões sobre a base total de eleitores brasileiros – 156,7 milhões de cidadãs e cidadãos, 697 mil aptos a votar no exterior – inscritos na base da Justiça Eleitoral.
Concentrar energia, tempo, foco, paciência e argumentos nesses 5% é o suficiente, ainda, para vencer o pleito em 1º turno. A empreitada equivale a convocar a população da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, e estabelecer metas para virar votos. Como não está contabilizado, nesta conta de padaria, o “não-voto”, ou seja, o eleitor que não comparecerá ou votará nulo ou branco (de 15% a 20% do eleitorado inscrito), a estratégia de margem de sobra. E vale!
Sugiro que cada eleitor de Lula, independentemente de ser petista ou não, esquerdista ou não;,basta ser inteligente e humano; gamefique sua participação eleitoral e crie uma banda de pontuação.
Como fazer isso?
Assim: estabeleça para si uma escala de soma de pontos. Ela oscilaria de 0,5 ponto a até 2 pontos a serem contabilizados por cada voto virado a partir de agora (e desde já):
- 0,5 ponto atribuído a cada eleitor cujo voto foi virado se ele votaria em Bolsonaro e você o convenceu a votar nulo ou se abster (porque ele sai da base de cálculo),
- 1 ponto a votos virados de eleitores de Ciro Gomes, Simone Tebet, Vera Lúcia ou Soraya Tronicke que deixem de votar neles no 1º turno para sufragar o ex-presidente Lula já em 2 de outubro, assim como isentões recalcitrantes desejosos de anular ou abster o voto que sejam convencidos a Lular, já; e, por fim,
- 2 pontos para votos bolsonaristas virados (porque contam em dobro ao saírem da base do mal, da perversidade, do lado escuro e demoníaco, e migrarem para a luz).
Siga agindo assim todos os dias – todos –, como se a vida fosse um game e você estivesse com o joy stick nas mãos. Faça isso em seu trabalho, no bairro, na padaria, no mercado, na feira, na família, em sua própria casa, no bar, entre amigos e nem tão amigos, com denodo e paciência; com argumentos e generosidade.
Vire votos.
Peça para os antagonistas falarem dos contra-argumentos a você, escute-os, rebata com calma sempre lembrando: você está com a razão.
Vire votos.
Depois, contabilize a virada e não deixe de voltar à personagem ao menos uma vez antes do dia 2 (a fidelização é relevante). Vá somando os pontos obtidos, compare e troque pontuações e impressões com quem está do seu lado.
DUAS SEMANAS A MAIS MUDARIAM 2018
Em 2018, se houvesse mais duas semanas entre o 1º e o 2º turnos, Fernando Haddad teria se aproximado de Bolsonaro a ponto de o resultado final do pleito ser imprevisível e a tragédia brasileira poderia não estar em curso acelerado agora. É claro que grandes gestos podem catalisar e acelerar esse necessário movimento de vira-voto em busca dos 5% necessários à tranquilizadora vitória em 1º turno, mas, eles não dependem de cada um de nós.
Há da possibilidade, ainda, de convencimento de Ciro Gomes e Simone Tebet para que voltem às mesas de negociação política e, em movimentos de imensurável gigantismo biográfico, abram mão da disputa antes do dia 2 de outubro para apoiar o único movimento viável para derrotar o consórcio de perversidades, corrupções e canalhices personificado em Bolsonaro: e este “movimento” é Lula, com Geraldo Alckmin na vice-presidência.
Caso não seja bem-sucedida a busca pelos 5% dos votos válidos de brasileiros a favor de Lula até o 1º turno e tenhamos, mesmo, de disputar um acirrado pleito em 2º turno presidencial, serão mais 30 dias de busca enérgica da ampliação deste movimento. Nada terá sido em vão, contudo: os caminhos estarão mais curtos e os argumentos, mais claro.
Neste cenário de 2022 a única marca que não pode ser alcançada é uma desastrosa, trágica e impensável reeleição de Bolsonaro. O golpe contra as instituições e contra a República, tentado por ele diversas vezes, não veio e nem virá. Frouxo, pusilânime e fraco, não conseguiu subjugar nem a sociedade civil, nem o Judiciário, a ponto de obter sucesso nesta empreitada obscurantista. O Congresso, porém, por meio da PEC da Derrama, concedeu a ele, à personificação de todo o mal, condições de comprar votos para tentar dobrar a aposta no aventureirismo nefasto.
Não podemos correr o risco de seguir flertando com a destruição do Brasil, fazendo piquenique na caldeira do vulcão. É isso o que ocorre quando se crê que está apenas no outro a responsabilidade por deter Bolsonaro, ou que basta dar o seu voto na urna eletrônica contra ele. Não basta. Além de ser preciso o seu voto contra ele, o seu voto a favor do único projeto que o derrota – o movimento Lula –, é fundamental o trabalho de cada um para virar votos.
Virar 5% dos votos dos eleitores aptos a votar. Dá. Depois disso, imbuídos do espírito de reconstrução nacional, a gente volta a discutir culpas e responsabilidades. A separar as colorações partidárias. A discutir quão impossível será seguir adiante sem punir exemplarmente os cúmplices e os comandantes do processo que destrói uma Nação cujo futuro jamais se cumpriu.