Petrobras despenca mais de 20% na Bolsa. Em dois dias, estatal perde quase R$ 100 bi em valor de mercado sob efeito Bolsonaro

João Sorima Neto e Henrique Gomes Batista

RIO e SÃO PAULO – O mercado financeiro no Brasil terminou a segunda-feira com um forte impacto provocado pelo pelo anúncio de que o presidente Jair Bolsonaro trocará o comando da Petrobras, na sexta-feira.

Num dia de nervosismo, o dólar fechou em alta, a Bolsa, em queda e as ações da Petrobras registraram um tombo de mais de 20%.

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As ações da estatal como o mercado esperava desde o fim de semana, perderam muito valor em um só dia. Os papéis ordinários (PETR3) recuaram 20,48% enquanto os preferenciais (PETR4, sem direito a voto) caíram 21,51%.

A queda das ações da Petrobras nesta segunda é a maior em percentual desde 9 de março de 2020, quando os papéis preferenciais caíram 29,7% com a crise desencadeada pela epidemia do coronavírus, a maior desvalorização diária da companhia, segundo dados da Economática.

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Os papéis da petrolífera até entraram em leilão (quando as negociações ficam suspensas até que os preços se estabilizem) pela manhã por conta da queda acentuada.

O tombo da Petrobras pouxou para baixo o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, que fechou com queda de 4,87% aos 112.668 pontos.

Na sexta-feira à noite, após o encerramento dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, o presidente Bolsonaro anunciou que vai destituir Roberto Castello Branco do comando da empresa e substituí-lo pelo general Joaquim Silva e Luna.

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Nesta segunda, Bolsonaro disse que não pretende alterar a política de preços, mas afirmou que “tem coisa que tem que ser explicada” sobre os reajustes de preços nos combustíveis

Efeito Bolsonaro: quase R$ 100 bi em valor perdidos

Em apenas dois dias, a Petrobras perdeu quase R$ 98 bilhões em valor de mercado, segundo a Economática.

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“A Petrobras está perdendo cerca de R$ 100 bilhões em valor de mercado em apenas dois dias. É brutal. E não se sabe o que vai acontecer”, diz Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais

Para Bandeira, se nos próximos dias o governo conseguir tocar o Orçamento, sinalizar o andamento de alguma reforma no Congresso ou mesmo sancionar a autonomia do Banco Central, as coisas podem se acalmar.

– Mas se isso não acontecer, por causa dessa política intervencionista na Petrobras, haverá impactos de toda a natureza. Teremos dólar, juros e inflação mais altos e Produto Interno Bruto (PIB) menor – diz Bandeira.

Queda forte também nos EUA

Em Nova York, as ADRs da estatal, papéis negociados na Bolsa americana, caíam mais de 20% no fechamento dos negócios no Brasil. Antes mesmo da abertura do mercado, os papéis já recuavam 16% no chamado pré-mercado.

– No exterior, o dia já não foi de otimismo nos mercados com a alta dos Treasures (títulos do Tesouro americano) puxando a alta do dólar. Mas por aqui são os fatos domésticos que pesam. A forma como a troca do presidente da Petrobras foi feita, traz incerteza, aumenta o risco país e atrasa a retomada da economia – diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil.

Nos EUA, o índice Dow Jones fechou praticamente estável com leve alta de 0,09%, o S&P 500 caiu 0,77% e o Nasdaq teve perda de 2,46%.

Na sexta, após o anúncio de Bolsonaro, as ADRs  da Petrobras chegaram a cair 15% no ‘after market’, ou seja, após o fechamento do mercado nos EUA.

Isso depois de as ações da empresa terem fechado em queda de mais de 7% no horário regular de negociações na Bolsa brasileira, já refletindo declarações do presidente Bolsonaro sinalizando uma intervenção da companhia, sobretudo na sua política de preços de combustíveis.

Estatais em baixa

Papéis de outras estatais também são influenciados negativamente com a ingerência política do governo na Petrobras, com o aumento da percepção de risco de ingerência, diz Luciano Rostagno, do banco Mizuho.

O Banco do Brasil também perdeu valor de mercado com o fantasma de ingerência política rondando as estatais.

A instituição valia R$ 94,8 bilhões no dia 18 e terminou esta segunda valendo R$ 82,2 bilhões, uma perda de R$ 12,6 bilhões nos últimos dois pregões.

A Eletrobras foi a que menos sofreu. Começou esta segunda com queda de quase 10%, mas recuperou fôlego com a expectativa de que uma MP acelere a privatização da companhia.

A estatal valia R$ 46,3 bilhões no dia 18 e hoje encerrou cotada a R$ 45,4 bilhões, uma perda de R$ 900 milhões em seu valor de mercado.

Na B3, as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) recuaram 0,69% no fechamento, mas chegarma cair quase 10% pela manhã.

O governo tenta apreesar a estatização da Eletrobras atraves de uma Medida Provisória, o que trouxe um pouco de calma ao mercado.

Já os papéis ordinários do Banco do Brasil do Banco do Brasil (BBAS3) perderam 11,65%.
Os papéis com maior peso no Ibovespa fecharam no vermelho.

BC intervém no câmbio

O dólar comercial fechou em alta de 1,26% e encerrou a sessão negociado na venda a R$ 5,45, maior cotação desde o dia 29 de janeiro, quando a divisa fechou a R$ 5,47.Na máxima do dia, a divisa bateu em R$ 5,53 e na mínima caiu até R$ 5,43.

Investidores buscaram refúgio no dólar com o aumento do risco do país e novas ingerências do governo na Petrobras, além da ameaça de interferência no setor elétrico.

Após o dólar bater em R$ 5,53, ainda pela manhã, o Banco Central anunciou um leilão de swap cambial, de 20 mil contratos, o equivalente a US$ 1 bilhão.

Reversão de expectativas

Júlia Monteiro, analista da plataforma de investimentos MyCa, ligada à corretora inglesa TP ICAP, observa que quando há intervenções do governo na Petrobras, a expectativa de receita e lucro da empresa cai entre 20% e 25% e o risco da empresa sobe cerca de 2%.

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Ela diz que no caso da Petrobras a troca de comando pode atrapalhar o palno de negócios da companhia, o que significa atraso na venda de refinarias.

– E mesmo que a venda das refinarias avance, o preço oferecido ser menor já que a atratividade dos possíveis interessados tende a se reduzir – oberva a analista. Diante desse cenário, diz Júlia, a expectativa do mercado é que o episódio da troca de presidente na Petrobras derrube o valor da empresa em 30%.

Risco-país dispara

Pela manhã, o rico-país medido pelo Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro contra eventuais calotes do pagamento de títulos públicos, deu um salto.O indicador subiu de 163 pontos, na sexta-feira, para 186 nesta segunda.

Trata-se do maior nível de risco desde 6 de novembro, quando o indicador chegou a 189 pontos.

– Essa subida causa um aperto nas condições financeiras. As taxas de juros mais longas sobem, a confiança dos investidores cai e as empresas ficam propensas a investir menos – diz Rostagno.

Juros em alta

As taxas dos juros futuros dos Depósitos Interfinanceiros (DI) encerraram a sessão em alta, com as taxas mais longas subindo com mais força, diante do auento de percepção de risco do país.

As taxas do DI para janeiro de 2022 subiram de 3,44% na sexta para 3,51% e as do DI para janeiro de 2023 subiram de 5,14% para 5,29%.Já as taxas do DI de janeiro de 2025 subiram de 6,72% para 6,93% e as do DI para janeiro de 2027 saltaram de 7,37% para 7,58%.

O economista André Perfeito, sócio da gestora Necton Investimentos, destacou em seu relatório para clientes que a decisão do presidente Jair Bolsonaro aumenta o nervosismo nos mercados financeiros, o que deverá fazer com que o Banco Central inicie, já em março, um ciclo de aumento da taxa básica de juro, a Selic, que atualmente está em 2% ao ano. 

“Objetivamente podemos supor que a elevação do risco irá pavimentar o início do ciclo de alta da Selic na reunião de março. Já víamos bons motivos para o início do movimento de correção da Selic; o que aconteceu na sexta apenas reforça as tendências observadas”, afirmou o economista no documento divulgado neste domingo.

Leia aqui o texto publicado originalmente no site de O Globo: https://oglobo.globo.com/economia/petrobras-despenca-mais-de-20-na-bolsa-em-dois-dias-estatal-perde-quase-100-bi-em-valor-de-mercado-sob-efeito-bolsonaro-24892524

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