Texto publicado na Revista Fórum:
O Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (8) recebeu o jornalista Luís Costa Pinto para comentar o processo que levou à prisão do ex-presidente Fernando Collor no dia 25 de abril a mando do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-senador foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, relacionados a um esquema de fraudes na BR Distribuidora, no qual utilizou sua influência política.
O jornalista acompanhou todo o processo contra o ex-presidente, que sofreu impeachment em 1992 acusado de corrupção. Toda a trajetória foi relembrada por Luís em seu livro “Trapaça. Volume 1 Collor: saga política no universo paralelo” e, posteriormente, no podcast “Trapaça: A Guerra dos Collor”, lançado em abril deste ano. Em oito episódios, o jornalista recuperou detalhes do ocorrido através de acontecimentos, reuniões e coberturas jornalísticas.
Luís afirmou que o processo foi interessante do ponto de vista de “ouvir de novo como se fazia política em outro patamar, no país, naquele momento”. “Quando a gente vê as intervenções do Mário Covas, do Miro Teixeira, do Zé Dirceu, do Genoino nos inquéritos da CPI”, comentou.
O jornalista relembrou que, durante o processo, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola primeiro se colocaram contra a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar Collor por receio de haver um golpe logo após a restauração da democracia.
“No início eles eram contra a CPI, contra o impeachment, mas não porque eles eram adesistas ao Collor, mas por uma questão política que era a preocupação com a possibilidade de haver um golpe logo depois da restauração democrática”, contou o jornalista. “Tinha legitimidade nessa preocupação”, acrescentou.
Luís também afirmou que o processo de resgate dessa questão gerou uma certa “nostalgia”.
Para assistir ao podcast completo em que Luís Costa rememora e destrincha a política brasileira durante o processo contra Collor, basta acessar a produção em sites como Spotify, Deezer, Apple Podcasts ou Youtube.
Alagoas: de Collor a Arthur Lira
Luís também foi questionado sobre o que explica o fato de Alagoas, cidade natal de Collor e outros políticos centrais da política brasileira, ter uma tendência à direita e à extrema direita, diferentemente de outros estados do Nordeste. O jornalista brincou com uma provocação, que já chegou a comentar com governadores alagoanos, com o senador Renan Calheiros e com o próprio prefeito de Maceió, João Caldas (PL). Ele afirmou que “o problema de Alagoas é que Alagoas não existe naturalmente como estado”.
“O problema de Alagoas é que Alagoas não existe naturalmente como estado. Alagoas só existe como estado porque foi um castigo imposto a Pernambuco por causa da Revolução de 1817”, brincou Luís.
Ele destacou que desse modo foi criado um “estado artificial”, mas que essa análise não tem tom somente de brincadeira, uma vez que Arthur Lira tem laços empresariais no interior de Pernambuco
“Renildo Calheiros, irmão de Renan, vai fazer a vida política dele em Pernambuco, tanto que é deputado por Pernambuco, foi prefeito de Olinda. A Tereza Collor, os avós da Tereza, eles eram políticos em Pernambuco, quer dizer, a família, inicialmente, a família Lira, que vai ganhar dinheiro com usinas em Alagoas, ela sai de Pernambuco”, explicou Luís.
“Então, Alagoas teve seu ‘andar de cima’ constituído por pessoas que saíram um pouco como um apêndice de Pernambuco e vivem essa vida empresarial até meio dúbia”, avaliou o jornalista.
Outra questão que pode explicar Alagoas, segundo Luís, é que a economia e a política do estado foram construídas em cima de uma “estrutura empresarial muito violenta”, que é a estrutura do açúcar, movida por poucos barões e que provoca uma “miséria muito grande”, de acordo com o jornalista.
“Tanto que quem começou a rever essa estrutura em Pernambuco foi Miguel Arraes. Qual foi a atitude mais revolucionária de Arraes no primeiro mandato dele como governador de Pernambuco?”, relembrou Luís. “Em 1961, Arraes acabou com os barracões das usinas de açúcar, que eram os barracões das usinas de açúcar. Os trabalhadores rurais que faziam a colheita da cana não recebiam salário em dinheiro, eles recebiam salário em vales que eram emitidos pelos donos das usinas e que trocavam por mercadorias exclusivamente dentro das lojas ou barracões montados pelos donos das usinas, ao preço que eles queriam que estivesse vigorando lá”, contou.
“Para você ter uma ideia, na economia de Alagoas, isso vigorou até o final dos anos 80, até o período do governo Collor. A economia sucroalcooleira se estendeu por mais tempo em Alagoas como matriz da política local por muito mais tempo do que em relação a Pernambuco”, complementou Luís.