A curetagem das feridas que sangram no intestino da Comunicação palaciana e da Esplanada ainda está em curso. Os sistemas antivírus estão em atualização no Planalto
Por Luís Costa Pinto
Na última segunda-feira, quando a popularidade do presidente Lula e a credibilidade do Governo Federal para impor rumos corretos à gestão pública sangravam nas redes sociais e expunham vários flancos sensíveis e os desacertos da Comunicação Pública do Palácio do Planalto, a empresa de pesquisa Nexus divulgava dados de um levantamento dando conta que “Juliette é a campeã do BBB com mais seguidores no Instagram”.
Subsidiária do complexo FSB, contratada pela Secom da Presidência da República para administrar o barômetro destinado a medir a eficácia da publicidade estatal e a capilaridade das mensagens emanadas a partir de peças que disseminam políticas de Estado, a Nexus (ex-IPRI, ex-FSB Pesquisa) passou batido pela disseminação no Instagram e no Whatsapp (duas empresas da “neotrumpista” Meta!) do vídeo em que o amolecado deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) faz perorações falsas e eficazes ao inocular o vírus da suspeita de “taxação do pix” e “sobrefiscalização da Receita” contra as classes C, D e E a partir da implementação das novas determinações estratégicas do Ministério da Fazenda para transações financeiras. A empresa de análise de dados Bites já havia captado o “case Nikolas” nas redes. Quem observa o panorama de informações também.
Naquele mesmo dia, véspera da troca de comando na Secom/PR, os responsáveis pela administração da conta da FSB, que também cuida da gestão da comunicação institucional do Palácio do Planalto, num contrato que chega a R$ 84 milhões anuais com aditivos, estavam definindo quem iria e quem não iria à cerimônia de transmissão de cargo entre Paulo Pimenta e Sidônio Palmeira. O discurso de despedida de Pimenta, responsável por estabelecer uma relação excessivamente fluida com determinados fornecedores do sistema de comunicação palaciano, recebeu um tratamento especial nas oficinas de texto da empresa. Mas, mergulho profundo nos problemas que já ali atormentavam o cliente, nada. O resultado é o que se está a ver.
Subindo a pirambeira da Esplanada no curto trecho do Eixo Monumental entre o Planalto e os ministérios, especificamente no Ministério da Fazenda, o bate-cabeças era ainda maior. Numa ação desesperada de contenção de danos à má estratégia de divulgação de uma medida de gestão corriqueira, necessária e republicana, o secretário da Receita Federal Robinson Barreirinhas armava-se de verdades cartesianas para ir a campo aberto nos ringues da mídia tradicional e enfrentar o eco que se espalhava com a velocidade e a eficácia de um boato de ‘Tapacurá Estourou!’ (Recife, 1975) entre a classe média, profissionais liberais, trabalhadores de aplicativo e as camadas mais espoliadas (e trabalhadoras) da sociedade brasileira. O preparo técnico de Barreirinhas para defender a medida correta do Governo nunca foi páreo para o poder comunicativo da irresponsabilidade atroz e até criminosa de Nikolas Ferreira, do senador Flávio Bolsonaro, do deputado Gustavo Gayer e de outros que se juntaram a eles no espalhamento das mentiras sobre algo que nunca esteve em cogitação: a “taxação do pix”.
O oportunismo da ação política de parte do PT, curtido nas intermináveis assembleias sindicais e estudantis, começou então a procurar outros culpados pela derrota caótica que já então se desenhava. Nunzio Briguglio, assessor especial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desde os tempos do Ministério da Educação e da Prefeitura de São Paulo, entrou na alça de mira dos petistas. Alas mais à esquerda do PT e Briguglio nunca se deram bem. O próprio presidente Lula vê com reservas a confiança que Haddad deposita no auxiliar e por duas vezes questionou o auxiliar se não era hora de “reciclar” seu pessoal. Agora, Nunzio está sob novo ataque dentro do Governo – Robinson Barreirinhas também.
Recuar na adoção das medidas de ampliação do espectro e fiscalização da Receita Federal sobre as transações financeiras, açambarcando o pix e os pagamentos de faturas de cartões de crédito em dinheiro vivo, foi a dolorosa e humilhante decisão do presidente Lula. Era o melhor caminho, fundamental para estancar a sangria de popularidade e de credibilidade. O preço do recuo, porém, virá nas faturas das próximas pesquisas de avaliação de Governo – a menos que a Nexus, a empresa de pesquisa que faz os levantamentos para a Secom, siga na sua cegueira deliberada ante a vida real que está posta aos seus olhos, captando apenas aquilo que lhes convém captar a fim de empoderar os discursos dos próprios contratantes.
O episódio da derrota do Governo Federal para o exército mercenário dos obscuros e mentirosos parlamentares da oposição (Nikolas, Flávio Bolsonaro, Gayer etc) tem de servir para uma curetagem completa das feridas que sangram no intestino da Comunicação palaciana e da Esplanada. Nesse processo, ainda há vítimas a surgirem dentro das equipes governamentais. Os sistemas antivírus estão em atualização no Planalto e na Esplanada.