“Autoridade Federal” no sul é o “Ministério Extraordinário” proposto aqui. Seguem 8 ideias de ação no RS traçadas por Marcelo Garcia

Ontem, na Plataforma (ver link), revelou-se a possibilidade de criação da pasta ministerial dedicada à reconstrução do Rio Grande do Sul. “Autoridade” é igual. Seguem ideias novas:

Por Luís Costa Pinto – A reconstrução da infraestrutura viária, do tecido social e da teia de empresas e cooperativas que davam vida e movimentavam a economia do Rio Grande do Sul é um desafio que levará anos e exigirá foco e dedicação de todos os entes públicos das três esferas de poder – dos municípios, do estado e da União – e empenho tenaz e de longo curso de organizações não-governamentais, instituições públicas e privadas, sindicatos, entidades religiosas de todos os credos e partidos políticos de quaisquer matizes. 

Dada a dimensão dos obstáculos e o grau de dificuldade da missão a ser cumprida para mitigar os efeitos imediatos e os traumas que virão a longo prazo, as coisas só retornarão ao leito normal por onde corriam até a fatídica noite de 30 de abril de 2024 de forma lenta e gradual. Há chances nada desprezíveis, porém, de novos e devastadores fenômenos climáticos adversos interromperem o processo e criarem um compasso de valsa a essa infernal dança do destino no sul do Brasil. 

O assistente social Marcelo Reis Garcia, professor de Práticas Sociais, que foi Secretário Nacional de Assistência Social em governos do PSDB e do PT, tendo trabalhado diretamente com os ex-ministros Patrus Ananias e Izabela Teixeira, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e que foi secretário e adjunto da área de assistência social em gestões de César Maia, no Rio, de Antônio Anastasia, em Minas Gerais, e de Ronaldo Caiado, em Goiás, além de ter dado um consultoria aguda para a Câmara dos Deputados nos períodos em que Rodrigo Maia presidiu a Casa, elaborou a “Proposta Emergencial para a Reconstrução Social do Rio Grande do Sul” que ora segue, em oito tópicos:

  • Recadastramento de toda a população do Rio Grande do Sul. “Durante este período das devastações climáticas e de seus efeitos”, diz ele, “todos os que estavam no Cadastro Único devem receber o Bolsa Família”. Os dados mudaram precisam passar por uma análise, pois mudaram completamente depois das devastações.
  • Criação da Força Social Nacional no mesmo modelo da Força de Segurança Nacional. Segundo Garcia, seriam integradas por assistentes sociais e psicólogos de outros estados que irão para o Rio Grande do Sul na fase aguda da reconstrução social. “As equipes do RS estão exaustas e não darão conta desse desafio”, crê.
  •  Liberar os saldos financeiros do Fundo Estadual e Fundos Municipais  de 2021 a 2024 (mesmo aqueles saldos remanescentes da época do combate à Covid-19), numa ação denominada Programa Emergência Familiar. “Esse programa não teria rubrica alguma”, assevera. Ou seja, seriam verbas descarimbadas – para usar o jargão da tecnocracia brasiliense.
  • Pagar pelo prazo de seis meses o teto integral IGD (Índice de Gestão Descentralizada) do Cadastro Único. Hoje, em condições normais, o pagamento é por resultado auferido em cada unidade da Federação.
  • Aumentar em 100% os recursos dos Fundos de Assistência para o Rio Grande do Sul e seus municípios durante o prazo de doze meses.
  • Criar um cartão de débito com valor de R$5.000,00 para famílias que tiveram perdas totais de móveis e eletrodomésticos. Esses cartões não devem ser passíveis de saques em espécies – têm de se destinar apenas gastos em lojas cadastradas no sistema de fornecimento emergencial.
  • Instaurar “Ambulatórios de Reconstrução” nas maiores cidades do Rio Grande do Sul com equipe volantes para ou municípios menores. Esses ambulatórios teriam equipe formada por assistentes sociais, psicólogos, advogados, economistas e arquitetos. “A reconstrução da vida dos atingidos passa de traumas psicológicos a negociação de dívidas, necessidade de avaliação das casas, defesa de direitos e organização de um Plano de Reconstrução Individual e Familiar”, diz Marcelo Garcia.
  • Criar “Espaços de Cuidados” para quem trabalhou na tragédia como profissional ou voluntário. “Muitos podem estar absorvendo traumas complexos”, crê ele.

Marcelo Garcia é um profissional do “chão de fábrica” da assistência social. Desde o início dos anos 1990 esteve no centro nevrálgico de alguns dos maiores dramas sociais ocorridos no país. Identifica-se com a ação política mais vinculada ao centro democrático, mas, evoca profundo respeito em personalidades centrais da esquerda como os ex-ministros Patrus Ananias e Tereza Campelo. Entre 2016 e 2022, esteve na linha de frente da resistência às tentativas de golpe de Estado empreendidas no Brasil contra o Estado Democrático de Direito. É uma voz que deve ser ouvida e, certamente, uma força de trabalho que deve estar à disposição da reconstrução do sul do país. De resto, a criação de uma “Autoridade Federal no Sul” é uma linha de decisão correta, porém, mais fraca do que um “Ministério da Reconstrução do Sul”. A personalidade a ser destacada para ser os olhos e os ouvidos do presidente da República no estado destruído terá de ter divisões ministeriais no ombro porque irá liderar e coordenar ministros de Estado. Na linguagem de sinais do poder, ninguém que detenha posto ministerial submete-se a ser liderado por subalterno – não dará certo e jogará para Brasília um fardo decisório constante. As cores partidárias e os históricos políticos recentes ou os projetos eleitorais futuros (mesmo que imediatos, para 2022) têm de ser esquecidos nas gavetas do pragmatismo de Governo para que se indique um nome certo a fim de ocupar a cadeira de “Autoridade Federal” artesanalmente construída nas últimas horas no Planalto.

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LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 55. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem três volumes lançados. Haverá um 4º e último volume). Também são de sua autoria "O Vendedor de Futuros", um perfil biográfico do empresário Nilton Molina e "O Procurador", livro-reportagem que mergulha nos meandros do Ministério Público e nas ações da PGR durante o período de Jair Bolsonaro (2019-2022) na Presidência da República.

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