Por Luís Costa Pinto
Toda casa de swing tem um Código de Ética que deve ser respeitado pelos frequentadores. Não interessa se o jogador vai até lá para desempenhar papel ativo ou passivo; como voyeur ou como protagonista; no curso de uma carreira solo ou integrando coligações ou federações de swingers: tem de respeitar o regramento cujo preceito fundamental é o de que não haverá conjunção carnal se todos os circunstantes assim não o desejarem.
Em casas de tolerância máxima, onde ninguém é de ninguém, o surgimento de uma personalidade alfa que obrigue todos os demais a fazerem o que ele deseja, como num Clube de Swing, por exemplo, foge às regras do jogo e desqualifica o certame.
Sob a liderança de Arthur Lira, convertido numa espécie de Macho Alfa que subjuga todo o mundo – de lideranças do PT no Parlamento a cabeças coroadas da transição instalada no Centro Cultural Banco do Brasil; de presidentes de partidos políticos a senadores, passando por integrantes de tribunais superiores – o Congresso vê-se convertido em lupanar moderninho.
O presidente da Câmara dos Deputados se porta como um Rei do Camarote no troca-troca de convicções, votos, posições, postos em comissões, votos-por-verbas e racionalidade x razoabilidade. Impôs a solução dos problemas dele – a própria reeleição para o biênio 2023/2024 a ocorrer em 1º de fevereiro – antes de serem resolvidas as equações armadas no tabuleiro da transição de governo. O mandato do presidente Lula se inicia um mês antes, em 1º de janeiro.
Transformados em eunucos da camarilha de consortes de Lira, lideranças do Partido dos Trabalhadores, de siglas que outrora eram de centro-esquerda como PCdoB e PDT e PSB, facilmente se curvaram às ofertas sedutoras do deputado alagoano e se revelaram faceiras na arriscada suruba parlamentar implementada para aprovar a “PEC da Transição” e conferir legalidade à pornográfica prática de crimes decorrentes da operação do orçamento secreto com as emendas de relator.
O PT se entregou nos braços de Lira fiando-se na promessa de que terá a presidência das Comissões de Constituição e Justiça e de Orçamento na próxima legislatura. Em paralelo a se deixar enredar nessa teia de enganações, lideranças parlamentares do PT esgrimem falsos argumentos contra os críticos dessa operação congressual desastrosa. Desqualificam e chamam de ingênuos quem lhes contraria porque, dizem, o presidente da Câmara poderia aprovar o impeachment de Lula nos primeiros meses do novo mandato do petista.
Blocos parlamentares de ficção, que terão validade de apenas 30 a 60 dias, estão sendo formados na Casa para consolidar uma chapa única consensual à Mesa Diretora – encabeçada pelo candidato à reeleição. Arthur Lira elege-se primeiro. Só uma a duas semanas depois, as comissões permanentes da Câmara serão preenchidas. Daí os blocos oportunistas estarão desfeitos, os partidos que não estiverem federados desde a eleição de outubro seguirão correndo em faixa própria e ninguém será capaz de ordenar ao Rei da Suruba que mantenha a palavra empenhada. Contudo, para o PT de Lula e para o PSB do vice Geraldo Alckmin, abraçados e aninhados na teia malévola de Arthur Lira, terá passado o tempo ideal para aproveitar as oportunidades e as virtudes que o destino e os eleitores brasileiros delegaram à dupla eleita no pleito majoritário de outubro.
Não é possível determinar o que é mais espantoso nesse novembro atípico de Brasília, com transição, Copa do Mundo e centelhas golpistas faiscando a todo momento: se a forma cândida como o futuro governo parece ter se entregado nos braços do proxeneta da política instalado na residência oficial da QL 12 do Lago Sul, de onde comanda a zona com uma maestria antes só vista nos tempos de Eduardo Cunha; ou se a desfaçatez com a qual lideranças do velhaco e carcomido “centrão” derrotado nas urnas presidenciais já aderiu às novas regras da Casa de Tolerância em que transformaram o Congresso.
Fato é que começará mal o novo governo se recuar tão rapidamente, como o fez, de suas convicções e de seus valores por medo de ameaças etéreas de um presidente da Câmara que no rol de ajustes de contas que teria com a Justiça, segundo acusações surgidas nos últimos quatro anos, transitam da Lei Maria da Penha a imputações por caixa dois e desvios de verbas públicas. As comparações e parâmetros seguem a régua de vulgaridade que mede ações e omissões contemporâneas em Brasília.