O que o 13 de maio de 1993 nos ensina para hoje?

Há 28 anos o jornal O Estado de S Paqulo publicava em sua página de Ciência que, em 2015, sondas da Nasa pousariam no planeta Plutão. O jornal O Globo, em suas páginas de Economia, registrava que a inflação anualizada atingia 2.500% – recorde histórico do País – e que o recém-empossado ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso reunira-se com a bancada do PMDB no Congresso (naquela época o PMDB, sozinho, era uma espécie de Centrão do presidente Itamar Franco, que assumira com o impeachment de Fernando Collor). FHC prometera aos peemedebistas fazer “algo” contra a inflação até o início do ano seguinte. O PSDB, partido de Fernando Henrique, concedia poderes naquele dia, 13 de maio de 1993, aos cearenses Tasso Jereissati e Ciro Gomes para que negociassem uma aliança de centro-esquerda em apoio a Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições de 1994. Lula corria praticamente sozinho no cenário pré-eleitoral. No Congresso, sob a batuta do PMDB, que, afinal, era o Centrão de outrora, preparava-se a Revisão Constitucional prevista na própria Constituição de 1988 – seria uma oportunidade para mudar dispositivos constitucionais com quórum menor do que as duas votações com maioria de 3/5 na Câmara e no Senado para aprovar emendas constitucionais.

E o que houve no curto espaço de dez meses?

  1. Fernando Henrique estruturou e pôs para trabalhar a equipe do Plano Real.
  2. Escorado no Real e no bem-sucedido ataque à inflação, que foi derrotada, FHC seria eleito em 1º turno em outubro de 1994.
  3. O PSDB, por meio da dupla Tasso e Ciro, ensaiou uma aliança de centro-esquerda com o PT de Lula apenas para cozinhar o galo do petista enquanto o Real era estruturado. Houve ciência política ali – e ela estava a favor do bloco de centro construído a partir de FHC.
  4. Com medo de Lula, a Revisão Constitucional resumiu-se a duas mudanças estruturais na Constituição: reduzir o mandato presidencial para 4 anos – depois, Fernando Henrique aprovaria a reeleição ao custo que político que se revelou depois – e criar o Fundo Social de Emergência – na verdade, a efetivação do contingenciamento do Orçamento, medida essencial para implementar o Plano Real.
    Em síntese: não está tudo bem para a oposição no ano que vem só porque as pesquisas DataFolha e PoderData divulgadas ontem põe Lula no lugar que lhe é devido desde 2018, o de franco favorito para o pleito presidencial. Há tempo para a extrema-direita aliar-se de novo à direita e a parte do centro político e urdir um projeto que seja capaz de derrotar a esquerda reunida sob a liderança inconteste de Lula. No cenário atual, a personagem mais descartável a esse projeto é Jair Bolsonaro.

É essa a análise do jornalista Luís Costa Pinto no vídeo de hoje.

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LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 55. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem três volumes lançados. Haverá um 4º e último volume). Também são de sua autoria "O Vendedor de Futuros", um perfil biográfico do empresário Nilton Molina e "O Procurador", livro-reportagem que mergulha nos meandros do Ministério Público e nas ações da PGR durante o período de Jair Bolsonaro (2019-2022) na Presidência da República.

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