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Malala, Greta e Dorina Nowill: livro retrata estudantes que se destacaram pelo esforço a uma causa

Por Elida Oliveira, G1

Ilustrações de Fernanda Ozilak acompanham as histórias do livro ’21 histórias de estudantes que mudaram a escola’, das autoras Cinthia Rodrigues e Luciana Alvarez. — Foto: Fernanda Ozilak/Divulgação

Histórias de estudantes “famosos”, como a da paquistanesa Malala Yousafzai, ativista pelo direito à educação, e a da Greta Thunbeg, que falta às aulas nas sextas-feiras para protestar contra o aquecimento global, são narradas em meio a outros “anônimos” no livro “21 Histórias de estudantes que mudaram a escola”, escrito pelas jornalistas Cinthia Rodrigues e Luciana Alvarez.

A publicação mostra o protagonismo de jovens e o impacto que suas ações trouxeram para a educação. Metade dos casos são de brasileiros. A ideia é inspirar e incentivar que jovens sejam os atores das mudanças que querem ver na escola. A venda será revertida para um projeto social liderado pelas jornalistas.

“A gente parte de casos famosos, mas a ideia é mostrar que são pessoas de carne e osso”, conta Cinthia Rodrigues, uma das autoras. Cada um dos capítulos vem com uma ilustração, feita por Fernanda Ozilak. São dela as imagens que ilustram esta matéria.

Ao fim de cada capítulo, há um conselho do perfilado para os estudantes de hoje – no caso das figuras históricas, os “conselhos” são retirados de publicações anteriores que citam o pensamento destas pessoas quando eram jovens estudantes.

“São histórias que pela primeira vez estão reunidas lado a lado. A ideia é que mudem a narrativa das escolas. Não é só o professor [que pode mudar a realidade]. Para o aluno, o tempo é outro, é urgente, ele tem somente aqueles anos de escola, se tiver que mudar alguma coisa, é ali, é pra já”, afirma.

Mesmo nos capítulos sobre nomes mais divulgados, há detalhes que nem sempre são conhecidos pelo público em geral.

Na parte sobre Greta Thunberg, por exemplo, as autoras narram o momento em que ela aprende na escola sobre o aquecimento global e se revolta com a falta de ação de políticos para conter a previsão de aumento de temperatura.

Ilustrações de Fernanda Ozilak que abre os capítulos com as histórias de Greta Thunberg (à esq) e Malala Yousafzai (à dir). — Foto: Fernanda Ozilak/Divulgação

Na história da paquistanesa Malala Yousafzai, a narrativa mostra a luta pelo direito à educação de todas as crianças, em especial das meninas, em países que consideram que o ensino não é essencial a todos. Ela chegou a ser alvo de um ataque a tiros do movimento fundamentalista Talibã e fugiu do Paquistão. A jovem se formou pela Universidade de Oxford.

Um capítulo é dedicado à história de Elizabeth Eckford, que fez parte do primeiro grupo de negros a estudar em uma escola frequentada por brancos no sul de leis racistas nos Estados Unidos em 1957.

“O governo manda acabar com o segregacionismo. Seleciona nove estudantes, filhos de funcionários públicos. Ela era a mais pobre entre eles. No primeiro dia de aula, houve um protesto. As outras famílias foram avisadas, ela não porque não tinha telefone. Elizabeth foi sozinha para a escola e enfrentou um grupo racista que protestou contra a presença dela”, narra Cinthia.

O livro traz ainda a história do sírio Mohamad al Jounde que, ao frequentar um campo de refugiados, percebe que não há atividade para as crianças. Ele organiza grupo de adultos voluntários para ensinar o que as crianças queriam aprender – no caso dele, a fotografia. A ideia é a semente para o surgimento de uma escola regular.

“Quando a pessoa está fazendo algo certo, as pessoas percebem. Mohamad atrai atenção internacional e começam a fazer escola, que até hoje existe em um campo de refugiados no Líbano”, conta Cinthia.

Nos casos brasileiros, há um capítulo dedicado à Dorina Nowill, brasileira que ficou cega aos 17 anos e não desistiu de estudar. Sua atitude levou ao desenvolvimento de materiais educativos em braile e à inclusão de jovens com deficiência visual nas escolas. Ela morreu em 2010, aos 91 anos, em São Paulo.

Dorina Nowill e Juliana Tupinambá estão no livro “21 histórias que mudaram a escola”. — Foto: Fernanda Ozilak/Divulgação

O leitor também conhecerá mais detalhes sobre a vida de Juliana Tupinambá, indígena do povo Tupinambá, que já foi considerado extinto e teve que lutar pelo reconhecimento histórico.

“Aos sete anos, ela é mandada para a escola que ela chama de ‘colonizadora’, com ‘catequese’. Ela vê o pajé e os anciões lutarem por reconhecimento, mas na escola era impedida de usar cocar e pintura corporal”, conta Cinthia.

Revoltada com a situação, ela tenta deixar a escola, mas é incentivada pela avó, que diz: “Cada um tem a sua luta, a sua é do papel e caneta”, narra Cinthia. A jovem entende que a escola a ajudaria a lutar pelos aldeados e, ao mesmo tempo, se desenvolve como liderança indígena.

“Ela conta que, no início, eles queriam que ela fizesse ‘u-u-u-u-u-u’, aquela coisa estereotipada. Mas ela começa a colocar como foi a luta, o resgate da língua.” Hoje, Juliana está no mestrado. Sua luta teve como resultado um pezinho na criação e implementação da Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira.

Outra história inspiradora é sobre duas estudantes do Ceará que conseguem atrair de novo para a escola alguns colegas que haviam desistido de estudar, revertendo o movimento de evasão escolar no sertão do país.

“É de uma lindeza tão grande porque a evasão é um problema seríssimo no Brasil. Mas elas não normalizam. Vão atrás de todo mundo que falta na aula, entendem acolhem, e eles retornam”, afirma Cinthia.

Protagonismo nas escolas do Brasil

A inspiração veio do projeto que as duas jornalistas coordenam há cinco anos, o Quero na Escola. Antes da pandemia, 12 mil jovens eram atendidos ao ano. Os estudantes falavam o que queriam aprender, e elas faziam a ponte com voluntários.

“Nesse tempo todo vimos que os alunos têm dificuldade de se ver como protagonista. O estudante se vê como uma peça em uma escola pronta. Embora o protagonismo seja algo que falamos muito, desde antes do ‘Quero na Escola’ surgiu, não é assim uma coisa que eles tenham um exemplo claro. E a gente pensou: se eles pudessem ver, eles poderiam crescer”, conta Cinthia.

A venda do livro está sendo feita por meio de financiamento coletivo no site Catarse, e os recursos serão revertidos para a organização Quero na Escola, que coloca voluntários em contato com estudantes para incrementar a educação e incentivar o protagonismo.

Durante a pandemia, os voluntários atuaram ajudando os estudantes no ensino remoto. O objetivo é continuar com os trabalhos, que impactam na vida de milhares de alunos pelo país.

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