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Lula acertou o tom e o alvo na entrevista à CBN. Eis o rumo da comunicação de governo: pautar a agenda

Screenshot.AgBrasil

Fracassomaníacos da extrema-ireita foram obrigados a sair do mutismo cínico para defender Campos Neto e explicar como o BC é “independente” se o presidente da instituição é ponta de lança de projeto político de oposição

Por Luís Costa Pinto

Um presidente seguro daquilo que pretendia dizer, e indignado no tom e nos gestos escolhidos para fazê-lo, nos jardins do Palácio da Alvorada no início da manhã de uma terça-feira seca como sói acontecer no fim dos outonos em Brasília. Esse foi o Lula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu uma boa e necessária entrevista à Rádio CBN hoje, apenas um dia depois de liberar para divulgação aberta a mensagem que enviou ao colunista Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, explicando o porquê de não dar entrevista ao jornal – porque a publicação jamais reviu os erros cometidos em editoriais que saudavam a condenação injusta e irregular imposta a ele pelo ex-juiz (considerado suspeito pelo STF) Sérgio Moro – apesar de admirar o jornalista. Mello Franco é um dos bons analistas políticos do país.

Na entrevista à CBN, que foi ao ar, ao vivo, poucas horas antes do início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que terá o condão de reduzir, ou não, a taxa de juro SELIC. Até aqui, a taxa está fixada em 10,5% ao ano. Confrontada com uma inflação anualizada de 3,46%, a taxa SELIC mantém o Brasil como um dos campeões mundiais de juros altos no planeta. Juros altos, como bem sabe Roberto Campos Neto, simpatizante ideológico e eleitor declarado de Jair Bolsonaro (derrotado por Lula em 2022), inibem a atividade econômica e os investimentos produtivos no país. Com isso, prejudica-se a recuperação das ofertas de emprego e de geração e renda para as famílias brasileiras e beneficia-se a especulação financeira e o sistema bancário. Campos Neto é oriundo justamente desse meio: deixou uma vice-presidência do Santander para ocupar a presidência do Banco Central nomeado justamente por Bolsonaro quando o Brasil vivia uma trágica aventura de desgoverno.

Ao ajustar o ângulo do braço direito com o qual lançaria o dardo mais preciso da entrevista, o presidente consertou o rumo de uma pergunta que lhe havia sido feita pelos apresentadores da rádio. Milton Jung e Cássia Godoy quiseram saber o que o presidente achava do fato de o presidente do BC ter encontrado o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, pré-candidato à presidência, “numa festa”; daí, Lula, correta e calibradamente, pôs o pé na porta: “Não é que ele encontrou com o Tarcísio em uma festa. A festa foi para ele, foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,50%”, asseverou. 

Depois da homenagem feita a Campos Neto por Tarcísio Freitas, spin doctors do governador paulista fizeram chegar a algumas redações amigas das teses reacionárias do bolsonarismo que o ainda presidente do Banco Central aceitaria ser ministro da Fazenda de um eventual governo de Tarcísio Freitas caso ele se eleja em 2026 derrotando o grupo político que ora ocupa a Presidência. Hábil e mordaz, Lula espicaçou: “Quando ele se autolança para um cargo, eu fico imaginando, a gente vai repetir um Moro? O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez (referia-se ao ex-juiz Sérgio Moro, que aceitou seu ministro da Justiça ainda como magistrado e durante a campanha de 2022, quando promoveu manobras jurídicas indecentes para beneficiar Bolsonaro contra Fernando Haddad em 2018)? Um paladino da Justiça, com rabo preso a compromissos políticos? Então, o presidente do BC precisa ser uma figura séria, responsável e ele tem que ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado”, respondeu o presidente. Uma comparação dura e definitiva.

Com sua entrevista à CBN, e com a precisão do lançamento do dardo ao alvo da cartela da agenda política nacional, Lula restaurou a precedência do Palácio do Planalto na pauta da política e da economia e obrigou Tarcísio, Arthur Lira e Sérgio Moro a saírem do mutismo cínico ao qual estavam confortavelmente entregues pelos aduladores midiáticos que deles não exigem explicações – só munições para atrapalhar o Governo e o país – e defenderem Campos Neto além de explicarem como se crê que há um “Banco Central independente” se o presidente da instituição sonha em ser ministro da Fazenda de um adversário do atual presidente da República.

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