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Saiba como ler as pesquisas de 2022 e veja antes dos outros os cenários desenhados

Por Luís Costa Pinto

DataFolha desta semana semana apenas consolidou numa “fotomontagem” os registros fotográficos produzidos em intervalos menos espaçados (e com outras técnicas) por diversas outras empresas de pesquisa. A realidade consolidada é: Lula parecia ter chances de vencer em 1º turno entre dezembro/2021 e fevereiro/2022, Bolsonaro recuperou terreno com melhora de avaliação de governo, mas, inflação e miséria (e, sobretudo, alta dos combustíveis) impactam diretamente essa recuperação. Eleição ainda pode se resolver em turno único. Porém, para que lado? Eis a pergunta que seguirá em aberto até setembro.

Divulgado no fim da tarde da última quinta-feira 24 de março, o mais recente resultado das pesquisas DataFolha que medem as intenções de voto e os ânimos pré-eleitorais dos brasileiros deixou claro que a disputa presidencial de 2022 está polarizada entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). E disso não sairá: nenhum dos nomes elencados por forças diversas — partidos políticos, mídia tradicional e seus pretensiosos “formadores de opinião” e dealers do mercado financeiro e do setor industrial — revelou ter energia capaz para se converter em tertius no processo eleitoral deste ano.

Quando são chamados a explicar números desfavoráveis às forças políticas que os apoiam, algumas lideranças agarram-se à boia metafórica por meio da qual se compara pesquisa de opinião ou de intenção de voto com fotografias. Pois, se é o caso de seguir neste campo semântico, é possível então dizer que os números do DataFolha compõem uma imagem (uma espécie de bricolagem) que na verdade é fotomontagem a partir dos levantamentos diversos institutos e empresas de pesquisa que vêm divulgando resultados menos espaçados do que a divisão de dados da Folha da Manhã e do Uol. O levantamento anterior deles datava de dezembro de 2021, enquanto que o PoderData (empresa ligada ao site Poder360) fez pesquisas telefônicas quinzenais nos últimos três meses, o Quaest (empresa independente neste mercado, contratada por instituições financeiras) promoveu pesquisas mensais, o Ipespe (tradicional empresas de pesquisas pernambucana) segue os levantamentos quinzenais do PoderData, o IPEC, empresa montada por remanescentes do extinto Ibope fez duas pesquisas no período, o Vox Populi, de não menor tradição que o DataFolha fez outras duas e até o FSBPesquisa, divisão de levantamento de dados da empresa de consultoria de comunicação FSB realizou seus levantamentos. É preciso imbuir-se de um estoicismo filosófico, distanciamento científico e projetar o conjunto de pesquisas em agregadores como o disponibilizado gratuitamente pelo site Poder360 (ao qual você tem acesso clicando neste link aqui: agregador Poder360) para ler de forma panorâmica o resultado da bricolagem de pesquisas. E o que ela nos revela?

  • O ex-presidente Lula é favorito, até aqui, porque saltou para um patamar de 40% a 45% de intenções de votos, no qual se mantém há mais de seis meses, e tem rejeição consolidada declinante e sempre em torno de 20 pontos percentuais menor que a rejeição do que a de Jair Bolsonaro.
  • O presidente Bolsonaro, há três meses, desde dezembro de 2021, iniciou um processo de recuperação da avaliação de governo em razão da melhora dos indicadores econômicos verificados com o arrefecimento dos efeitos devastadores dos dois anos de pandemia. Porém esta recuperação está ameaçada pela conjuntura econômica formada na esteira da guerra detonada com a invasão da Ucrânia pela Rússia e os efeitos dos boicotes internacionais contra os russos e a debacle da produção agrícola ucraniana. O resultado do último PoderData, divulgado há dez dias começava a mostrar isso — a alta dos preços dos combustíveis e o repique inflacionário que advirá daí (o Banco Central ajustou a previsão de inflação de 2022 de 4,7% para 7,1%, com tendência de alta) impactaram os números promovendo um freio na leve e paulatina escalada ascendente do presidente. Na próxima quarta-feira, 30 de março, será divulgado novo levantamento quinzenal da empresa ligada ao site Poder360 e o movimento deverá ser confirmado, ou não.
  • Não há “terceira via” ou qualquer outro nome viável para tirar Lula ou Bolsonaro do eventual 2º turno em outubro de 2022.Entretando, a esqualidez política dos adversários que se aventuraram até aqui como “3ª via” é tamanha que o risco é surgirem tão deprimidos do ponto de vista de intenções de voto nos próximos levantamentos que acentuem as chances de o pleito se resolver em turno único no dia 2 de outubro. Nem Ciro Gomes , do PDT, nem Sérgio Moro, do Podemos, muito menos João Doria, do PSDB, ou Simone Tebet, do MDB, conseguem marcar dois dígitos em intenções de voto. Doria e Tebet empatam ou perdem de nulidades eleitorais como o deputado André Janones, do obscuro Avante.
  • Está claro que o grande “erro” da parcela de brasileiros que diz não querer votar “nem em Lula, nem em Bolsonaro”, calculada em torno de 18% a 20% do total de eleitores a partir das inferências especulativas dessas pesquisas, foi não ter abraçado com destemor as possibilidades surgidas desde 2020 de promover o impeachment de Jair Bolsonaro a tempo de apresentar ao País um perfil diverso de liderança. A polarização entre o ex-presidente Lula e o atual, Bolsonaro, está dada e consolidada e dela não se fugirá.

Se a foto panorâmica dos levantamentos pré-eleitorais feitos até agora é esta definida acima com a alta fidelidade dos números das empresas e pesquisa, o que esperar da cena de campanha daqui para a frente? Um breve roteiro:

  1. O ex-presidente Lula, que havia recuperado a capacidade de pautar o debate político nacional desde sua bem sucedida viagem à Europa em novembro de 2021, quando foi recebido como Chefe de Estado no Parlamento Europeu, no Palácio do Eliseu e no Bundestag, e depois de ter convertido sua campanha em um movimento de restauração da democracia, da liberdade e da busca de esperança pelos brasileiros, precisa intensificar a percepção de que colocar o ex-governador Geraldo Alckmin na chapa como candidato a vice-presidente não é mero movimento figurativo (Alckmin precisa demonstrar destreza nos movimentos de costura política, ou seja, não pode ser um “vice figurativo”) e dar contornos reais à prioridade que já estabeleceu para a eleição de uma bancada de pelos 180 a 200 deputados federais alinhados com suas ideias.
  2. A Federação que será formada por PT-PCdoB-PV terá de buscar uma construção midiática forte para vender como movimento nacional a aliança eleitoral que está selando com a Federação PSol-Rede, com o PSB, com o Solidariedade e, possivelmente, com o PSD.
  3. Lula, o PT e a esquerda como um todo precisam encontrar uma forma de saída para a armadilha que lhes foi montada — e na qual caíram — pelo governo e pelas lideranças de denominações evangélicas pentecostais e neopentecostais. Hoje, o ex-presidente, em cujos mandatos não houve quaisquer perseguições a alas religiosas ou a credos, não reproduz de forma linear, entre os evangélicos, a preferência média que colhe na população ou a frente que abre para Bolsonaro entre as mulheres. A campanha de oposição a Bolsonaro tem de focar em ganhos reais de intenções de voto entre os evangélicos, e isso se refletirá em ampliação da vantagem que já tem sobre as eleitoras brasileiras.
  4. Jair Bolsonaro, por sua vez, perseguirá a ampliação em até 10 pontos percentuais a vantagem eleitoral que colhe nas regiões Norte e Centro Oeste ante o ex-presidente Lula. Vem daí a explicação para a radicalização dos discursos em torno do agronegócio e da busca de precarização ainda maior de exploração econômica de áreas protegidas — venha essa proteção e questões ambientais ou indígenas e de povos remanescentes.
  5. Bolsonaro também precisa reduzir a desvantagem que tem no Nordeste e no Sudeste. A candidatura do ministro Tarcísio Freitas, em São Paulo, e o apoio à tentativa de reeleição de Cláudio Castro, no Rio, são chaves nessa estratégia no Sudeste. No Nordeste, o presidente precisará abraçar a campanha eleitoral de seu ministro da Cidadania, João Roma, que tenta se eleger governador da Bahia (4º maior colégio eleitoral do País) e do deputado Capitão Wagner, que tenta o governo do Ceará (6º colégio eleitoral brasileiro). Em Pernambuco, 5º maior colégio eleitoral do País, não há nome bolsonarista viável e, fora Roma e Wagner, apenas no Piauí, estado com um dos menores eleitorados entre as unidades federadas brasileiras, há um candidato com chances de eleição que apoia Jair Bolsonaro: Sílvio Mendes, do PSDB, mas, próximo de migrar para o PP ou o PL.
  6. Para neutralizar movimentos bolsonaristas, o ex-presidente Lula intensificará o fechamento das alianças estaduais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. No Rio, em torno do deputado Marcelo Freixo (PSB) e em Minas, em torno de Alexandre Kalil (PSD). A ideia de Lula e do PT é levar a um arco suprapartidário de alianças de esquerda no 2º e no 3º maiores colégios eleitorais estaduais. No maior deles, em São Paulo, a estratégia está bem definida na formatação do palanque do ex-ministro da Educação e ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), que contará com o empenho e a habilidade política de Geraldo Alckmin a favor dele no interior do estado (mesmo que Márcio França, do mesmo PSB de Alckmin, mantenha até o fim sua candidatura a governador). Independente de uma relação formal com a campanha de Haddad, o ex-governador Alckmin chancela no interior o diapasão amplo do ex-ministro da Educação — e isso vem sendo compreendido por forças políticas paulistas com as quais Alckmin tem conversado.
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