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Lula 3 nos leva a flertar com uma nova tragédia política no país. Extrema-direita se revigorou e pode voltar ao poder

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O presidente Lula parece atordoado. Dá vezo a uma ingenuidade política que nele não víamos desde 1994. Quem sabe fazia as horas – nunca arriscava perder o timing

Por Luís Costa Pinto

O massacre legisferoz (sim, é um neologismo e eu o criei para definir o que houve) da última terça-feira expôs ao Brasil ao mundo a feiúra pérfida e pútrida das entranhas do Congresso Nacional. Na necrópsia daquele dia, envolto na gosma purulenta regurgitada pelo exército de cretinos e cretinas liderados por Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, estavam as fotografias de uma nação irremediavelmente dividida e os restos mortais de um Governo inepto, fraco e disfuncional. Observando de longe o presidente Lula nas reuniões palacianas, nos eventos mal cobertos pela mídia oficial e distorcidos pela mídia tradicional, o presidente Lula parece atordoado. Dá vezo a uma ingenuidade política que nele não víamos desde 1994, quando perdeu uma eleição ganha por se deixar enrolar e embevecer pelo “mercado financeiro” e pelo “centro político” até que eclodisse da chocadeira manipulada por essas duas entidades a candidatura imbatível de Fernando Henrique Cardoso. Imbatível, claro, porque fora nutrida com a kryptonita envolta no rótulo do Plano Real.

Outrora baluarte onde se assentava a estrutura de todos os sonhos e projetos do lado bom da sociedade brasileira – a centro-esquerda e siglas até mais radicais do que ele já foi um dia – o Partido dos Trabalhadores perdeu a centralidade do debate político. Entra numa eleição municipal onde corre o risco de ser pulverizado do comando das capitais e humilhado nas cidades médias e pequenas. Quando descemos rumo ao coração das trevas tupiniquins, nos rincões profundos do país, em verdade, o PT surge como pau de galinheiro das mazelas sociais. Sabemos que não é nada disso, mas, assim é pintado e coreografado todos os dias no universo paralelo das redes sociais legitimadas pela média dos comentaristas acéfalos e bucéfalos da mídia tradicional. A imagem distorcida desse único grande partido político brasileiro, de suas utopias e da maior liderança que ele forjou e que tem, sim, alma e caráter de estadista universal, Lula, permanece sendo vilipendiada nas profissões-de-fé de arautos do evangelho que fanatizaram a prática política e dela se beneficiam argentariamente.

Esse é o quadro atual da conjuntura nacional. Com 18 meses de 3º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, estamos no derradeiro momento para efetuar alguma inflexão no Governo, na equipe de gestão, nas políticas ora em curso e na forma de dialogar com a sociedade e enfrentar a oposição. Até aqui, o presidente da República abusou da boa vontade com opositores e com atores centrais do “mercado financeiro” e da “mídia tradicional”. Por eles, foi abusado. Os coadjuvantes nomeados por Lula para intercederem em nome dele e como porta-vozes do projeto de país que ele tem, os ministros de Estado, sobretudo a troika palaciana integrada por Casa Civil, Secretaria Geral de Governo, Articulação Política e Secom, tem fracassado miseravelmente nas missões que lhes foram confiadas. 

GUIMARÃES QUER ‘LIDERAR O PT’: IDÉIA CRETINA

Em meio às ruínas do que já foi um dia o projeto do PT e a maquete daquilo que poderia ser um Brasil reconstruído depois da devastação da “Era Bolsonaro”, o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), surgiu lépido e faceiro no dia seguinte as múltiplas derrotas congressuais arvorando-se a disputar a presidência do partido para “mudar tudo”. Certamente incorporou a cretinice não patológica dos companheiros de Centrão e do chiqueirinho parlamentar de Arthur Lira, turmas com a qual anda desde muito antes de 2022. Guimarães é sócio remido dessa tragédia na cena política nacional, é elemento desagregador na equipe de Governo – sempre se viu como candidato à vaga hipotética de Alexandre Padilha (Articulação Política do Palácio do Planalto) e agora se crê nome viável à sucessão de Gleisi Hoffmann no comando PT. No enredo melancólico vivido até agora, nesses 18 meses de 3º mandato de Lula, o líder na Câmara foi uma espécie de “cavalo de Tróia” por meio do qual Lira e seu rol de condenados desembarcaram no Governo a fim de promover as pilhagens às quais testemunhamos.

Movimentando-se pelas marginais das estradas que conduzem ao poder, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, ultrapassou todos os demais competidores que disputavam com ele o bólido emprestado em 2018 a Jair Bolsonaro: o de títere do “mercado financeiro” e das alas mais reacionárias da plutocracia brasileira – nela incluídos os herdeiros da “mídia tradicional” e o trio de novos atores que compraram ingresso para o camarote do grupo, Rubens Ometto (Cosan/Estadão), João Camargo (Esfera/CNN/Estadão) e Rubens Menin (MRV/CNN/Itatiaia). Arthur Lira dirige o BRT que se esgueira por essa rodovia. Rodrigo Pacheco é o simpático e pouco confiável rodomoço a distribuir sorrisos e perscrutar a cena para saber com quais lealdades contará lá na frente, na hora de resgatar as promessas feitas a seus projetos pessoais. O Bus Rapid Transit conduzido por Lira não produz vácuo por onde passa. Ao contrário, aplaina o caminho para a volta da extrema-direita ao poder federal no meio da pista calcinada pelo desmonte promovido nas bases da sociedade a partir das quermesses legisferozes promovidas no Congresso Nacional. É preciso conter o avanço desse trem que personifica a vanguarda do atraso; quem sabe fazia as horas, não faz mais. Perdeu o timing.

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